De barco, atirei-me ao vento
Quente de brandura,
Era esóterica aventura,
Gotículas frescas no peito.
Vergando mil Astúrias,
Não sentia a mágoa anunciada,
Nem lança de mar saudada,
Ou até as antigas fúrias.
De espírito regenerado,
Rejeitando infausto fado,
Dou-me às águas curiosas.
De grande ânimo e grave
Sem querer saber de entrave,
Beijo as ondas furiosas!
(…)
Abraço medusas tropicais, sem medo,
Picadas eléctricas e enervantes
Dão-me por longos instantes:
Urticária feliz que não concedo!
Neste equador precário,
Absorvo a garra da cúria subtil,
Abro a carne de forma gentil,
Que bonito é o mal arbitrário!
Pôr-do-Sol a distâncias brutais,
Que brilha as suas cores finais,
Prorrompendo em mim a Tropicália.
Dura para sempre, sem engodo,
Sol vermelho que se vê derrotado,
Nas violentas letras desta marginália.
(…)
Isolado, mas de alma contente,
Pinto o horizonte de alabastro,
Quebro o cabo do meu mastro,
Não retornando, vou sorridente.
Não lamentem ou sintam falta,
Que me façam cerimónia.
Vendam a minha memória,
Não será ela que me exalta.
Penhorem a mora das cantigas,
E não caiam nas intrigas,
De quem me fez partir, abalado…
Em todos os tristes poemas que fiz,
Nunca escrevi singela lírica feliz,
Perpetuada no silêncio do outro lado.
Que as costuras rasgaram em viga,
Fortes passagens sem divindade.
Neste mar, não terei saudade,
O passado, se me quer, que me persiga!
O meu espírito vive em praias luminosas,
Preso a palmeiras altas por grosso linho,
Sinfonias acenando o fim do meu caminho
E bonitas ninfas, banhadas em prosas.
JOHNNY SALVATORE